segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Sobre Raiva



Sonhei que era mãe, pela primeira vez. Mais do que a minha filha, o que me fez lembrar do sonho foi o fato de estar enfurecida com a minha mãe, por ela dar uma BALA para a nenê, que por sua vez abria a embalagem sozinha e enfiava o doce na boca de uma vez! "Mãe, ela só tem 3 meses! Pelo amor de Deus! Ela não pode comer açúcar na primeira infância, de jeito nenhum!" E embalei nisso uma das minhas corriqueiras explicações sobre como a criança ainda nem desenvolveu paladar para doce com essa idade. Como ela estaria criando um vício que seria muito mais difícil de ser quebrado no futuro... Eu estava muito revoltada!

Foi simbólico ter tido um sonho assim, pois esse atrito entre minha mãe e minha filha me ajudou a lembrar do sonho em si, pensar na minha linhagem matriarcal e na minha gestão dos sentimentos.

Eu tive uma infância bastante perturbada. Fazia muito xixi na cama. Mamei na mamadeira até os 11 anos de idade. Falava muito enquanto dormia e brigava muito com a minha mãe nos sonhos. Frequentemente, eu acordava gritando com a Dona Joana.

Demorei muitos anos pra entender que sou movida pela raiva. Ela me ajuda muito ter consciência de que todos os elementos são necessários e precisam estar integrados em mim. Hoje, vejo o quanto esse sentimento me ajudou a buscar justiça nos níveis mais sutis possíveis. A Raiva é professora e motivadora. Me tira da inércia e me faz agir. Se me incomodo e me revolto é porque estou viva e tenho forças pra lutar. Se me subestimam ou humilham, me levanto muito mais determinada.

Pri Garcia
 
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